SUPER BOWL I: PARA TUDO TEM UMA PRIMEIRA VEZ

O PRÉ-JOGO

Depois de seis anos de uma crescente rixa entre as ligas, tudo era mais que uma questão de vencer ou perder um jogo. De fato, era a expectativa por um tira-teima que começou e pegou corpo durante toda a década de 1960 até aquele momento.

O objetivo ali era mostrar que a liga vencedora, mais do que qualquer outra coisa, era superior e, no caso da NFL, meio que pra mostrar que não precisava da outra – enquanto que para a AFL era o momento de se afirmar como uma alternativa pelo menos no mesmo nível.

Enquanto os Packers eram os maiores vencedores de títulos da NFL da época, os Chiefs eram estrelas em ascensão e, dentro de sua liga, a equipe a ser batida. Por isso, sendo a NFL de então mais estruturada e até mesmo algo mais forte, a expectativa geral era de uma vitória dos Cabeças de Queijo sem grandes sofrimentos. O consenso entre as casas de apostas era a vitória de Green Bay por 14 pontos.

As redes de televisão CBS e NBC tambem compraram a briga, desta vez pela maior audiência – apesar de o acordo assinado em junho de 1966 prever que as duas poderiam transmitir o jogo. Por isso, a pressão dentro e fora de campo era gigantesca.

A definição do local e da data foi quase no susto, inimaginavelmente caótica para os padrões de hoje. O acordo previa o jogo para o dia 8 de janeiro de 1967, ainda sem local definido. Mas havia um problema: a final da AFL estava marcada para o dia 26 de dezembro, enquanto o jogo da NFL seria no dia primeiro de janeiro – o que claramente seria uma vantagem em termos de descanso para a AFL.

Por sua vez, a sede só foi decidida por Los Angeles no começo de dezembro do ano anterior (o estádio escolhido foi o Memorial Coliseum, o mesmo que vinha sediando os jogos dos Rams até a temporada 2019).

Conversa vai, conversa vem, e as duas finais de liga aconteceram no primeiro dia de 1967, um domingo, transmitidas cada uma por suas redes afiliadas, uma na sequência da outra.

O tão esperado AFL-NFL World Championship Game aconteceu, afinal, em 15 de janeiro de 1967. Até as bolas usadas pelos times eram diferentes: pelo acordo, quando o ataque dos Packers tivesse a posse da bola, usaria o modelo “The Duke” da Wilson, enquanto que os Chiefs iriam jogar com a Spalding J5V, mais alongada.

O JOGO

Começou nervoso, pra dizer o mínimo. Claramente pressionados pelo clima do confronto, os head coaches Vince Lombardi de Green Bay (que, anos depois, daria nome ao troféu) e Hank Stram de Kansas City não queriam dar chance ao acaso. Armaram os times para começar matando as jogadas defensivamente ao máximo possível: o resultado foi punt pra lá, punt pra cá.

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Bart Starr foi o MVP do Super Bowl I

Nisso, o quarterback de GB, Bart Starr, um dos eternos ícones da franquia, conseguiu fazer a bola avançar 80 jardas em seis jogadas para marcar o primeiro touchdown. Starr lançou três bolas longas para seu corpo de recebedores (11 jardas para Marv Fleming, 22 jardas após um scramble para Elijah Pitts e mais 12 para Carroll Dale). Na jogada final da campanha,
Starr lançou para o reserva Max McGee, que pegou a bola com uma só mão na linha de 23 jardas e correu até a endzone, totalizando um down de 37 jardas. Sete a zero depois do ponto extra.

Na sequência, Kansas City levou a bola até a linha de 33 jardas do campo de ataque, mas o kicker Mike Mercer errou o field goal de 40 jardas. Naquela época, o Y ficava em cima da linha na entrada da end zone, e não nos fundos do campo como é hoje – os postes foram relocados por razões de segurança. Final do primeiro quarto: Packers 7-0 Chiefs.

O segundo quarto começou com os Chiefs correndo atrás do prejuízo logo no começo. E o empate veio em uma campanha avançando 66 jardas em seis jogadas, com duas recepções de destaque: uma de 31 jardas do lendário QB Len Dawson para o recebedor Otis Taylor, e a que coroou o TD, de sete jardas para Curtis McClinton. Sete a sete.

Green Bay não deixou barato e devolveu na mesma moeda, com uma campanha vitoriosa que avançou 73 jardas. Dito assim parece fácil, mas não foi. A campanha teve quatro terceiras descidas longas, todas superadas pelos passes precisos de Bart Starr: avanços de 10 jardas em uma 3ª para 5 para McGee, 15 jardas em uma 3ª-pra-10 para Dale, depois mais 11 jardas em uma 3ª-pra-5 para Fleming e uma de 10 jardas em uma 3ª-pra-7 para Pitts, que deixou Green Bay na posição que terminou com uma corrida de 14 jardas do fullback Jim Taylor – o primeiro TD corrido, portanto, da história do SB. Ponto extra marcado, 14 a 7 Packers.

Kansas City precisava fazer alguma coisa para Green Bay não se desgarrar no placar. E embora Len Dawson tenha sido sacado em oito jardas na primeira série de descidas, o ataque Chief conseguiu se recompor e avançar 58 jardas em quatro completações consecutivas, levando a bola até a linha de 31 jardas para a conquista de um field goal.

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Uma das fotos mais icônicas da história do futebol americano: Len Dawson fumando um cigarro no intervalo do Super Bowl I

Final do segundo quarto: Packers 14 – 10 Chiefs. Apesar do placar adverso, o momento do jogo era de Kansas City, que havia vencido o segundo quarto (10 a 7), tinha mais jardas totais (181 a 164) e mais primeiras descidas (onze contra nove). A defesa de Kansas City estava pressionando bastante o ataque de Green Bay, e vencer o jogo no segundo tempo já não parecia uma miragem. Dava pra uma equipe da AFL ganhar de outra da NFL, afinal.

O terceiro quarto, entretanto, foi cruel com as aspirações da franquia do Missouri. Logo no primeiro drive, o ataque dos Chiefs conseguiu levar a bola até a linha de 49 jardas do seu próprio campo. No entanto, em uma terceira descida, a defesa de Green Bay lançou uma blitz muito forte e o pocket da linha ofensiva colapsou, impedindo o QB Len Dawson de lançar a bola propriamente. O passe saiu fraco e ele foi interceptado pelo safety Wille Wood, que correu com a bola até a linha de 5 jardas, quando foi derrubado por Kansas City.

O turnover custou caro, porque o ataque de Green Bay retornou ao campo somente para correr as 5 jardas restantes e marcar o touchdown, com o running back Elijah Pitts. Após o extra point, Packers 21- 10 Chiefs e a sensação de que a maré do jogo virou completa e psicologicamente para a franquia de Wisconsin.

Existe uma frase famosa atribuída a Vince Lombardi que diz que “ataques vencem jogos, defesas vencem campeonatos”. A partir desse lance, pode-se dizer que essa máxima foi executada à risca. A defesa dos Packers não deu mais espaço para o ataque dos Chiefs até o final do jogo. Tanto foi assim que todas as campanhas de KC até o final terminaram em punts, com apenas doze jardas totais de avanço no final do terceiro quarto para Kansas City.

Aproveitando o momento, Green Bay marcou um TD pouco antes do final do terceiro quarto. Após forçar um punt de Kansas City da linha de duas jardas, a bola foi recuperada na linha de 44 jardas de GB. A campanha resultou em 56 jardas de avanço e um touchdown lançado da linha de 13 jardas de Bart Starr para Max McGee.

Final do terceiro quarto: Packers 28 -10 Chiefs.

O último quarto já foi praticamente jogado em marcha lenta, mas ainda houve tempo para um último touchdown de Green Bay. Acabou sendo um TD terrestre saído da linha de 1 jarda pelo running back Elijah Pitts, mas a campanha também contou com dois passes em profundidade de Bart Starr para o wide receiver Carroll Dale (25 jardas) e Max McGee (37 jardas).

Aliás, McGee, o reserva que durante a temporada havia tido apenas quatro recepções, 91 jardas e um TD, performou bem melhor no Super Bowl I : sete recepções, 138 jardas e dois touchdowns. Final do jogo: Packers 35 – 10 Chiefs, campeões do Super Bowl I.

Josafat Falcão

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